terça-feira, 13 de setembro de 2016


UMA SANTA QUE NÃO ACREDITAVA EM DEUS
Almoçava com Mário, Mônica e Ana Luiza, (filho, nora e neta, respectivamente) e em dado momento minha nora suscitou comentário sobre a Madre Teresa de Calcutá. A prêmio Nobel da paz, haveria, segundo constara em uma dessas redes sociais, sido membro de uma seita que tinha como dogma o autoflagelo e coisas que tais; paremos por aqui.
Por alguma dessas inexplicáveis coincidências, leio hoje de Leonardo Boff,
(“é filósofo, teólogo e professor aposentado de Ética da UERJ”

 ninguém menos que um dos idealizadores da Teoria da Libertação.

"as opções aqui analisadas de Frei Leonardo Boff são de tal natureza que põem em perigo a sã doutrina da fé, que esta mesma Congregação tem o dever de promover e tutelar"...

[comentários condenatórios do ex-Papa Ratzinger]

“A cristologia de Boff se caracteriza pela primazia dos elementos antropológicos sobre os eclesiológicos e dos elementos sociais sobre os individuais. Boff valoriza os aspectos humanos de Jesus e sua relevância libertadora, destaca que a originalidade de Jesus se manifesta quando este corrige os ensinamentos de seus antepassados, em oposição ao sistema e à dimensão meramente subjetiva da fé...”

Prossegue o antecessor de do Papa Francisco.

[E Boff, foi condenado por optar pela “primazia dos elementos antropológicos (relativo ao Homem) sobre os eclesiológicos (dogmas da Igreja?), e dos elementos sociais sobre os indivíduos]

Em1992, ante novo risco de punição, desligou-se da Ordem Franciscana e pediu dispensa do sacerdócio

Inseri estas informações para apresentar, a quem não conhece, o nobre colunista Leonardo Boff do blog Brasil 247.
Ele em seu artigo, pede para se deixarem de lado por um momento as questões políticas e nos ocuparmos com um tema de
“...grande relevância existencial e espiritual. Trata-se da noite escura que a recém canonizada Madre Teresa de Calcultá viveu e sofreu desde 1948 até a sua morte em 1997. Temos os testemunhos recolhidos pelo postulador de sua causa, o canadense Brian Kolodiejchuk num livro Come Be My Light (Venha, seja a minha luz).”
Poderia me ater ao fato do quão são hipócritas os dogmas da religião, qualquer que seja,
(“Na Igreja Católica...ponto de doutrina já por ela definido como expressão legítima e necessária de sua fé”),
mais hipócritas, ainda, são seus sequazes. Sejam os tradicionais ou os noviços cristãos, travestidos de evangélicos. Mas deixo o assunto de lado. (há coisa mais irritante do que se querer converter quem não comunga com a sua “Fé”?).
Portanto, vou me ater a “a noite escura... de Madre Teresa de Calcutá”.
Imaginar que uma Madre, canonizada; isto é, tornada santa, que viveu, “como é notório”, segundo escreve Boff,
em Calcutá recolhendo moribundos das ruas para que morressem humanamente dentro de uma casa e cercados de pessoas...”   
E, ele mesmo, afirma ter-se surpreendido
“...quando viemos saber de seu profundo desamparo interior, verdadeira noite sem estrelas e sem esperança de um sol nascente.”  
E
Há tanta contradição em minha alma: um profundo anelo de Deus, tão profundo que me faz mal; um sofrimento contínuo e com ele o sentimento de não ser querida por Deus, rejeitada, vazia, sem fé, sem amor, sem cuidado; o céu não significa nada para mim, parece-me um lugar vazio
E diz mais, nosso Frei Boff
“...muitos místicos testemunham esta experiência de obscuridade. Constatamo-lo em São João da Cruz, em Santa Teresa D'Avila, em Santa Teresa de Lisieux, entre outros. Esta última, tão meiga e expressão da mística das coisas cotidianas, escreveu em seu Diário de uma Alma:" Não creio na vida eterna; parece-me que depois desta vida mortal, não existe nada: tudo desapareceu para mim, não me resta senão o amor".
Imagine! Seguem palavras de Leonardo Boff
“...A noite escura de Madre Teresa a ponto de dizer: "Deus verdadeiramente não existe" nos deixa uma interrogação teológica. Ela descompõe todas as nossas representações de Deus. "Deus ninguém jamais viu", atestam as Escrituras. É o "nosso saber não sabendo, toda ciência transcendendo" no dizer de São João da Cruz. Crer em Deus não é aderir a uma doutrina ou dogma. Crer é uma atitude e um modo de ser; é aderir à uma esperança que é "a convicção das realidades que não se veem"(Hebreus 11,1), porque o invisível é parte do visível. Crer é uma aposta no dizer de Pascal que conheceu também a sua noite escura.”
Para ser honesto com Boff, transcreverei o fecho do seu artigo
Madre Teresa de Calcutá no amor aos moribundos, estava em comunhão com o Deus abscôndito. Agora que já se transfigurou viverá a presença de Deus face a face no amor e na comunhão.

E, ainda, há quem estranhe meus constantes questionamentos sobre a minha “noite escura”. Eu que não passo de um pobre imortal!

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A CONDENAÇÃO DE UMA INOCENTE

Após mais de sessenta dias sem fazer postagens neste blog, por motivo já declarados na postagem de 20 de junho, preferi dedicar toda a máxima atenção aos inúmeros fatos que jorravam diuturnamente referentes ao impedimento da presidenta Dilma. Assim é que encerrada (provisoriamente) a refrega retorno ao funcionamento deste blog.
Com a consecução do impeachment conseguiram derrubar uma presidenta legitimamente eleita e, não só isto, interromper abrupta e violentamente a realização de um sonho de nação menos desigual implementado durante mais de uma década pelos governos trabalhistas de Lula e de Dilma Roussef.
Desde a posse da presidenta em janeiro de 2015, que as forças, as mesmas forças, que causaram a ruptura democrática em 1964, que levaram Getúlio Vargas ao suicídio e atentaram contra o governo de Juscelino, tentam expungir, desestabilizar, inviabilizar o governo de Dilma.  
...desde o início do meu segundo mandato, medidas, ações e reformas necessárias para o país enfrentar a grave crise econômica foram bloqueadas e as chamadas pautas-bomba foram impostas, sob a lógica irresponsável do “quanto pior, melhor”  (Discurso de Dilma no Senado – agosto 201


[E ela não registrou em seu discurso que Comissões na Câmara Federal que deveriam estudar e, talvez, aprovar as medidas, ficaram por cerca de 4 meses, a partir de janeiro de 2015, sem funcionar]
Como porta-voz, ou melhor, protagonista da conspiração, a grande imprensa deu sua decisiva contribuição, a torpedear incessantemente com notícias deturpadas, sobre fatos contra o governo e simplesmente omitindo descaradamente fatos de realizações positivas ou outros de caráter favoráveis.
Houve um esforço obsessivo para desgastar o governo, pouco importando os resultados danosos impostos à população.”
(Discurso de Dilma no Senado – agosto 2016)
Rede Globo ... justo ela, que durante o ritual golpista [sessão do impeachment no Senado]  estava ensinando o povo a fazer ovo cozido.” (Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Policia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo)
Conseguiram, afinal, o funesto intento, preliminarmente, com a aprovação da admissibilidade de culpa e do impedimento da presidenta pela Câmara Federal, numa vergonhosa sessão, não cômica porque trágica, para os destinos da nação, aos olhos da imprensa internacional, ensejo para os mais desairosos comentários e, por último, com a sessão no Senado Federal, no dia 31 de agosto, (superstição à parte, êta mês premonitório, hein?).
Nesta última sessão, em bem menor proporção, repetiu-se “o teatro”. “personalidades” da oposição ao governo constituído apresentavam-se, com “faca entre os dentes”, com “sangue nos olhos”, a repetir o “mantra” do CRIME DE RESPONSABILIDADE – como a atemorizar os de entendimento contrário ou os sem opinião ainda formada - nascido na conspiração e fundamentado em peça jurídica forjada no TCU e defendida por uma “messiânica” criminalista.
E foi assim por toda a Sessão, uma entediante sucessão de perguntas com os mesmos sentidos, acrescidos de indagações sobre fatos não relacionados (o “conjunto da obra”) com o âmago da questão: “houve ou não crime de responsabilidade” e, como não poderia deixar de ser, repetitivas respostas da injustamente acusada no processo.
Quem afasta o presidente pelo “conjunto da obra” é o povo e, só o povo, nas eleições.(Discurso de Dilma no Senado – agosto 2016)
Sem me arvorar a jurista e no meu modesto entendimento, os decretos, até então, editados tinham a autorização legislativa, sim, (o que, ao contrário, segundo “eles”, caracteriza o crime de responsabilidade) pela Lei Orçamentária Anual, (LOA) editada anualmente, como diz seu título, e se é lei, logicamente, tem a validação do Legislativo; e, ressalte-se, em momento algum houve acréscimo de despesa. Já quanto ao “Plano safra”, foi demonstrado que há lei própria e que passa ao largo da presidência. E o que é mais que um fato: os decretos e o Plano safra estavam sendo gerados normalmente pelo Executivo, nas gestões de presidentes anteriores e da própria Dilma Roussef, sem que fossem contestados, até que o TCU passara a questionar, no segundo semestre de 2015, já por “encomenda” da conspiração.         
...A essa altura todos sabem que não cometi crime de responsabilidade, que não há razão legal para esse processo de impeachment, pois não há crime. Os atos que pratiquei foram atos legais, atos necessários, atos de governo. Atos idênticos foram executados pelos presidentes que me antecederam. Não era crime na época deles, e também não é crime agora.” (Discurso de Dilma no Senado – agosto 2016)
E meu veio a lição primária do Direito: não há crime sem lei anterior que o defina. Crime exige perfeita adequação da conduta à norma penal. Direito Penal não permite analogias, interpretações extensivas. Se não há crime.(Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Policia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo)
Agora que o estrago está feito, já se lê naquele veículo que faz parte do estamento midiático da conspiração, portanto, insuspeito, a Folha de São Paulo, editorial que confessa a inexistência de razões irrefutáveis no fundamento da acusação. Embora o diga cercando-se do cuidado em alegar a estrita obediência à Constituição, ao amplo direito de defesa... Mas como ampla defesa se o VEREDICTO já estava decidido, desde a Câmara Federal? E ela, a FSP, cita, reforço, expressamente “um golpe parlamentar”.    
O processo decorreu em estrita obediência à Constituição, assegurado amplo direito de defesa e sob supervisão de suprema corte insuspeita. As acusações de fraude orçamentária, porém, embora pertinentes enquanto motivo para impeachment, nunca se mostraram irrefutáveis e soaram, para a maioria leiga, como tecnicalidade obscura – e, para uma minoria expressiva, como pretexto de um golpe parlamentar." (Folha de S. Paulo de 01/09/2016)

Acho que neste momento a nação, o estado de direito e a democracia estão abalados. Mas é instante da reunificação das forças progressistas, dos movimentos sociais para retomada de lutas, pelo efetivo Estado de Direito, pela Democracia e principalmente pela intocabilidade dos Direitos e avanços sociais já adquiridos.