Vão os meus votos
de um ano novo de saúde, paz, prosperidade e que os “maus espíritos” da
política sejam enxotados para que continuemos prosperando como nação e, acima
de tudo, uma nação justa. Que a desigualdade seja diminuída em proporções
satisfatórias e que tenhamos paz social. Aproveito para reeditar “Um Natal (in)
Feliz”, que abaixo segue transcrito.
“Não há quem imagine o assombro,
seguido de depressão, que me causa este tal “espírito de Natal”. O “espírito do
Natal”, que é precedido de massiva e alucinante publicidade, envolto num
intragável repertório de musicas natalinas, (excluo unicamente aquela que diz “...eu pensei que todo mundo fosse filho de
papai Noel...”) leva a sentir-me como se eu, de outro planeta, estivesse
assistindo a uma representação teatral da hipocrisia dos terráqueos e de
adoração a um deus, o deus da gastança, do “espanjamento”, da extravagância.
Em tenra idade, cheguei a ser
encantado com o Natal. (Ah! Este termo designa tantos significados, e o seu
principal conceito é completamente abandonado). Lembro-me muito bem de que
consegui, numa remota noite de Natal, “ver” Papai Noel, ou melhor “ver” seu
vulto, o seu característico perfil; o seu pretenso saco de brinquedos era um
balão gigante e que lhe fazia, ainda, a função de transportador; foi extasiante
“vê-lo”; foi como se eu estivesse assistindo a um filme do tema com toda a sua
coreografia e cenário que saíam da penumbra do pequeno vão, onde dormíamos
todos: eu, minha mãe e o irmão menor, local este que se transformara
milagrosamente num campo de aterrissagem do balão estufado e repleto de
brinquedos e seu célebre passageiro. Tudo se passara num átimo, ao mesmo tempo
fugaz e eterno, tanto que até então encontra-se “filmado” em meus mais íntimos
“arquivos”. Filme de final feliz? Não! O
dia amanhece, as luzes do cinema se apagam. Reencontro-me com a realidade. Saio
então do cinema com a sensação de que o filme acabou e com isto o sentimento da
decepção entre a ficção e a realidade, do contraste entre a pobreza (com
dignidade, diga-se de passagem) real e o luxo e a riqueza que aquele velho
(velhinho prá uns) do ridículo Rô, Rô... fantasiadamente transmite.
E é aí que mora o perigo. Nessas
épocas, parece (ou quer-se fazer parecer) que todo o mundo é solidário, que
todo o mundo pode desfrutar de lautos
jantares, mesas repletas; que todo o
mundo pode consumir alucinadamente e
para isto os órgãos de comunicação social, as empresas de publicidade capricham
nas mensagens: faça seu Natal aqui; o seu Natal está aqui. Enfim, o Natal
está nas lojas em geral; o Natal é o consumismo desvairado. A razão principal
da festa é simplesmente desfocada.
Quão “careta” é desejar-se Feliz Natal”