Assisti, com muito receio, às imagens da manifestação realizada ontem
(17/06) no Rio de Janeiro. Sinceramente, diante do quadro de total baderna, de
vandalismo, de extrema violência; de policiais sendo forçados a fugir; a
esconder-se, vieram-me lembranças nada agradáveis de um tempo que é para ser
esquecido. Infelizmente, tenho que iniciar estas minhas impressões sobre as
manifestações desta forma.
Mas há que dizer também que as terríveis cenas a que assisti (e que podem
ter origem em infiltrações indesejáveis), foram como se fizessem parte de um
outro capítulo que compuseram a manifestação no Rio. Porque foi bonito ver, no
capítulo anterior, digamos assim, uma multidão, milhares de pessoas
ordeiramente protestando contra aquilo que acreditam estar errado e sem
partidarismo. A propósito, tive a oportunidade de ver a reação contrária de
manifestantes a exibição de bandeiras de oportunista partido político.
Na outra ponta, assisti à manifestação ordeira, pacífica em São Paulo, o
que, parece-me, é um acordar de longo sono da juventude, é o renascer dos caras
pintadas.
Assisti, também, à entrevista que dois líderes do Movimento pelo Passe
Livre (MPL) concederam à TV Cultura, no programa Roda-Viva. Bem
articulados, eles (um jovem professor de História e uma estudante de Direito),
defendem a bandeira do MPL que é passagem gratuita para todos nos transportes
de massa, financiada pelo poder público logicamente.
Bem, ai está uma reivindicação objetiva e legítima, no meu entender.
Porque é necessário que se reverta completamente a lógica dos transportes de
massa em nossas cidades, principalmente a lógica do lucro que é vorazmente
imposta por empresários do ramo. Jamais ouvi falar, quanto mais que se tenha a
disposição de dissecar as planilhas de custo apresentadas pelos donos dos
transportes.
Tal qual a corrupção que tanto se fala; que tanto dizem combater somente
tem-se em foco o corrupto. O corruptor, o grande empresário, o grande
conglomerado empresarial, está a rir de todos, cada vez mais rico, cada vez
ganhando mais. Assim é com o transporte de massa, foca-se tão somente o poder
público. O gordo e voraz empresário de ônibus está aí a rir de nossas caras, a
zombar da plebe; a queixar-se da carga tributária, ao mesmo tempo em que a
sonega; a queixar-se das obrigações trabalhistas e a escamoteá-las. Por que
empresas trocam de nomes constantemente? Em consequência, por que trocam de
CNPJ?
Vamos, neste particular, mudar o foco da questão? Vamos exigir que o
Prefeito, ou a autoridade competente escancare as planilhas dessas empresas,
afinal são concessionárias de um serviço público; que vá a fundo na análise de
seus custos; analise a composição societária de cada uma dessas empresas, seus
sócios, seus “laranjas”; suas despesas como, por exemplo, com aluguel das
garagens e a relação locatário e locador e outras e outras relações.
Então, teremos oportunidade de mudar completamente a história de que o “bicho-papão”,
tão somente, é o poder público, aquele que é exercido pelo direito obtido pelo
nosso voto, enquanto o empresário é sempre o príncipe encantado, situação que é
mantida há séculos.