Um Pouco do E. C.
Vitória - continuação
Dizia eu que os anos de ’70 não foram nada bons para o E. C. Vitória,
assim como os anos de ’80, devem, de certa forma, ser esquecidos por nós
amantes rubro-negros. Poderia queixar-me ainda das muitas trapaças denunciadas
e até autodelatadas por dirigente tricolor, segundo dizem, no livro “Futebol,
Paixão e Catimba”= “Emprego de
recurso(s) antiesportivo(s)”, diz o Aurélio. Mas esqueço-as, prefiro
lembrar-me do presente. Este presente que teve início nos anos ’90, com a
consolidação do Estádio Manoel Barradão, o querido Barradão, cujos trabalhos de terraplanagem iniciais começaram ainda
nos anos oitenta. Fato é que, com a utilização do nosso estádio como mando de
campo, foi uma década de completo predomínio no futebol baiano e de afirmação
como Clube de futebol, com prestígio nacional, “A consolidação do maior clube do Norte/Nordeste do Brasil”, (diz o
livro Barradão, Alegria. Emoção e Vitória).
Ah! Sofremos muito com o funcionamento inicial do Barradão. Era toda sorte de adversidade, (para ficar somente nesta
adjetivação), que encontrávamos no santuário vermelho e preto. A começar pelo
apelido de lixão e aquelas imagens de uns certos torcedores com máscaras de
proteção sobre as narinas, usando de todo o direito de extravasar o despeito
pelo sucesso do patrimônio alheio. Mas a situação era de integral precariedade,
em verdade: eu bebia cerveja no copo coberto com as mãos para evitar pouso
indevido das indesejáveis e inúmeras moscas.
Mas, como se pode constatar, o estádio, seguido de toda a
infraestrutura ali montada proporcionou uma virada completa no respeitante às
condições de habitação e, de um modo geral, de vida dos moradores de Canabrava
e adjacências.
E foi o Vitória campeão baiano em 1990, 1992, 1995 a 1997, (tri), 1999,
2000 e 2002 a 2009, (octa), 2010 e 2013. Melhor retrato da predominância
rubro-negra? Foi vice-campeão brasileiro em ’93, quando enfrentou um dos
melhores times de futebol do mundo na época, o Palmeiras de Edmundo, Evair,
Edilson...; Vice-campeão da Copa do Brasil em 2010, também enfrentando o melhor
time brasileiro da época, com Robinho, Elano, Neimar... Quer mais? É o maior
vencedor da Copa Nordeste. E, para
completar, as recentes e espetaculares goleadas em cima do rival: 5 a 1 e 7 a
3.
Umas
histórias/estórias, personagens folclóricos...
O futebol baiano tem muitos personagens folclóricos, começo
focalizando um espanhol, de baixa estatura, que se dizia técnico de futebol,
mas, antes de tudo, era comerciante, profissão preferida, quase que obrigatória
daqueles europeus egressos do mediterrâneo. Proprietário de hotel, se não
engano o Hotel Calçada, no início da rua Nilo Peçanha. Recordo-me muito bem que
passava por ali, sempre, e via jogadores aglomerados, como em concentração, na
porta do hotel. Aliava a isto sua secundária função, a de técnico de futebol e,
ao que parece, empresário de jogador, talvez o precursor dos atuais técnicos
que ditam os contratos dos seus jogadores, (não posso afirmar com certeza,),
pois era ele que recebia os jogadores, ou candidatos a jogador do time que
treinava. E, como se dizia, seu olhar crítico era tão apurado que conhecia “o jogador no arriar das malas”.
Este é bem atual, quero falar de Joel Santana, uma figura! Lembro-me
que o Vitória, num determinado jogo, fez 1 a 0 e imediatamente o time recuou.
Pô, estranhamos. A imprensa, também. Um dos repórteres, daqueles de pistas,
tipo Zé Bim, que tomou porrada de Paulo Carneiro, lhe pergunta: “Professor, por que o time recuou?;”
Responde “Papai”: “você acha que vou prá
cima dos inimigos para incendiá-los?
De outra feita, cogitado para vir treinar o tricolor, foi perguntado
quanto à veracidade da notícia, ele de pronto respondeu perguntando: “você acha que tendo tantos peixes graúdos como
bacalhau e outros para treinar, vou treinar sardinhas?”. É tanto que hoje a
torcida rival substitui o superhomem por
sardinha, como símbolo do time. Na final do campeonato baiano só rolaram
sardinhas pelo Barradão afora e ainda rolam.
Osório Vilas Boas, dizem, deitou e rolou. Eu digo “dizem” porque, em
verdade, não posso afirmar com provas. Fazia o que queria pela conveniência do
seu time do coração. Ele não escondia sua paixão e não se cansava ou media
consequências no sentido de beneficiar seu time. O próprio título do livro, que
tem a sua autoria, é um libelo à autodelação: “Futebol, Paixão e Catimba”= Emprego de
recurso(s) antiesportivo(s),. Dizem que Osório ia buscar
os juízes de fora que vinham apitar jogos do Bahia e viajava no mesmo avião.
Somente por cortesia? Tem o famoso jogo contra o Santa Cruz de Recife, que o
Bahia necessitava ganhar, parece-me, por 7 a 0 e ganhou por exatos 7 a 0. Anos
depois assistimos a uma reedição do fato, com o jogo eliminatório entre
Argentina e Peru, e confissão posterior de argentino sobre o fato de ter havido
injunções financeiras, de ter “rolado a mala preta”.
Dadá, Maravilha, parece-me, também, jogava no time pernambucano e
jogou contra o Bahia naquela derrota e, logo, logo, foi contratado por Osório,
sabe-se lá por quanto. Dadá foi um fenômeno. O cara fazia gol de todo jeito,
canela, braço, bicuda, de costas. Mas não tinha jeito nenhum no trato da bola, corria
de uma maneira hilariante e, parecia, não ter recebido fundamento algum, na
base e naquela época havia base de formação? Era uma pedra bruta, sem a menor
lapidação. Mas com a cabeça, ah! Dizia ele, ser como, um beija-flor, como um
helicóptero: “parava no ar”. Realmente,
era matador, terror nas áreas adversárias.
Ourivaldo Manoel dos Santos,
meu colega de Correio, mais conhecido por Ouri, negão sarado. Já afastado do
futebol, ele me contou que os BAVIs
da sua época eram de porrada pura. Raro era o jogo que não acabasse em porrada.
Ele, goleiro, em geral, estava sempre fora do início da pancadaria, mas quando
iniciada, ele saía do seu gol e, me disse com prazer, onde havia camisa branca
ou tricolor, era inimigo, ele sentava a madeira. Certa feita, contou-me ele, já
afastado do futebol, trabalhava com táxi. Ele era daqueles que não levava
desaforo para casa. Um motorista com seu ônibus aplicou-lhe uma “fechada”. Mais
adiante, ele atravessa o carro na frente do ônibus, adentra o ônibus e é
recebido com um facão pelo seu rosto. Nesta, ele levou completa desvantagem..
Tem também Baiaco. Outra figura. Contam-se muitas coisas sobre Baiaco,
coitado. Grande “frente de zaga”, “cão-de-guarda” dos bons para os seus
zagueiros. Mas Baiaco, certa feita, na iminência de não jogar uma partida
importante, foi entrevistado e respondeu: “comigo
ou sem migo, o Bahia ganha”. Tem a história do pagamento do lanche no
avião, mas esta história serve para muitos protagonistas, coitados jogadores de
primeira viagem aérea.
Ah! Para encerrar seguem duas histórias minhas. Estávamos no Barradão,
eu e o “cumpade” Arlindo. O jogo encerrou e ficamos a beber no bar de Vandinho,
quando demos pela real, os refletores já haviam sido apagados assim como todas
as luzes também. Não havia mais ninguém além de nós. Até Vandinho tinha se
“picado”. Pô e agora? Subimos na direção da concentração dos meninos da base e,
justo, do campinho usado para treinamento da base, avistamos um buraco, que foi
usado como saída.
Outra, estávamos, eu e o mesmo “cumpade”, desta feita na Fonte Nova,
para assistir ao jogo de Vitória e Americano de Campos. Digo que estávamos para
assistir porque em verdade ficamos no bar. Eis que o Vitória ganhou por 6 a 1 e
somente pudemos ver o gol de honra do time carioca, feito já nos acréscimos.