Tenho
andado, de certa forma, desiludido, decepcionado e, acima de tudo, preocupado,
em face de constatar que a campanha que a grande imprensa irresponsavelmente
move contra o governo constituído da Presidenta Dilma e da imagem de grande
estadista do ex-metalúrgico, Lula da Silva, está encontrando ressonância na
velha classe média, especialmente junto a pessoas que me rodeiam, e digo
preocupado porque venho sentindo cheiro de movimentação tal qual aconteceu nos
anos 62-64.
O
PT, desastradamente, embarcou na errada canoa dos velhos e surrados partidos,
que navegava de há muito por águas tranquilas, e deu, assim, o mote para essa
perseguição. Deste modo, o PT “inventou” toda a má (diga-se de passagem)
prática política, a séculos e séculos, praticada e nunca combatida e que, só e
somente só, na conta do Partido dos Trabalhadores foi metamorfoseada da prática
de crime eleitoral (“nunca dantes” apenada, no particular) para crime com pena de, até, restrição à
liberdade individual para cada um dos envolvidos.
Bem,
mas, em verdade, quero transcrever o texto a seguir, cujo autor esteve ou está
residindo fora do país e, ele como ninguém, pode dar um bom testemunho do
estrago que tem feito a grande mídia no que respeita à tendenciosidade, à
imparcialidade na formação da opinião pública, que, como já disse alguém, se
trata de opinião publicada e não pública.
Enviado por luisnassif, sex,
28/12/2012 - 16:00
Por Marco Antonio L.
Os textos de Demétrio Magnoli, Ricardo Noblat,
Merval Pereira, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Catanhede, entre
outros, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e
estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente
de “padrões de manipulação” na mídia brasileira.
Os
brasileiros no exterior que acompanham o noticiário brasileiro pela internet
têm a impressão de que o país nunca esteve tão mal. Explodem os casos de
corrupção, a crise ronda a economia, a inflação está de volta, e o país vive
imerso no caos moral. Isso é o que querem nos fazer crer as redações
jornalísticas do eixo Rio – São Paulo. Com seus gatekeepers escolhidos a dedo,
Folha de S. Paulo, Estadão, Veja e O Globo investem pesadamente no caos com
duas intenções: inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e destruir
a imagem pública do ex-presidente Lula da Silva. Até aí nada novo.
Tanto
Lula quanto Dilma sabem que a mídia não lhes dará trégua, embora não tenham –
nem terão – a coragem de uma Cristina Kirchner de levar a cabo uma nova
legislação que democratize os meios de comunicação e redistribua as verbas para
o setor. Pelo contrário, a Polícia Federal segue perseguindo as rádios
comunitárias e os conglomerados de mídia Globo/Veja celebram os recordes de
cotas de publicidade governamentais. O PT sofre da síndrome de Estocolmo
(aquela na qual o sequestrado se apaixona pelo sequestrador) e o exemplo mais
emblemático disso é a posição de Marta Suplicy como colunista de um jornal cuja
marca tem sido o linchamento e a inviabilização política das duas
administrações petistas em São Paulo.
O
que chama a atenção na nova onda conservadora é o time de intelectuais e
artistas com uma retórica que amedronta. Que o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso use a gramática sociológica para confundir os menos atentos já era de
se esperar, como é o caso das análises de Demétrio Magnoli, especialista sênior
da imprensa em todas as áreas do conhecimento. Nunca alguém assumiu com tanta
maestria e com tanta desenvoltura papel tão medíocre quanto Magnoli:
especialista em políticas públicas, cotas raciais, sindicalismo, movimentos
sociais, comunicação, direitos humanos, política internacional… Demétrio
Magnoli é o porta-voz maior do que a direita brasileira tem de pior, ainda que
seus artigos não resistam a uma análise crítica.
Agora,
a nova cruzada moral recebe, além dos já conhecidos defensores dos “valores
civilizatórios”, nomes como
Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro.
A raiva com que escrevem poderia ser canalizada para causas bem mais nobres se
ambos não se deixassem cativar pelo canto da sereia. Eles assumiram a
construção midiática do escândalo, e do que chamam de degenerescência moral,
com o fato. E, porque estão convencidos de que o país está em perigo, de que o
ex-presidente Lula é a encarnação do mal, e de que o PT deve ser extinguido
para que o país sobreviva, reproduzem a retórica dos conglomerados de mídia com
uma ingenuidade inconcebível para quem tanto nos inspirou com sua imaginação
literária.
Ferreira
Gullar e João Ubaldo Ribeiro fazem parte agora daquela intelligentsia nacional
que dá legitimidade científica a uma insidiosa prática jornalística que tem na
Veja sua maior expressão. Para além das divergências ideológicas com o projeto
político do PT – as quais eu também tenho -, o discurso político que emana dos
colunistas dos jornalões paulistanos/cariocas impressiona pela brutalidade. Os
mais sofisticados sugerem que a exemplo de Getúlio Vargas, o ex-presidente Lula
cometa suicídio; os menos cínicos celebraram o “câncer” como a única forma de
imobilizá-lo. Os leitores de tais jornais, claro, celebram seus argumentos com
comentários irreproduzíveis aqui.
Quais
os limites da retórica de ódio contra o ex-presidente metalúrgico? Seria o ódio
contra o seu papel político, a sua condição nordestina, o lugar que ocupa no
imaginário das elites? Como figuras públicas tão preparadas para a leitura
social do mundo se juntam ao coro de um discurso tão cruel e tão covarde já
fartamente reproduzido pelos colunistas de sempre? Se a morte biológica do
inimigo político já é celebrada abertamente – e a morte simbólica ritualizada
cotidianamente nos discursos desumanizadores – estaríamos inaugurando uma nova
etapa no jornalismo lombrosiano?
Para
além da nossa condenação aos crimes cometidos por dirigentes dos partidos
políticos na era Lula, os textos de Demétrio Magnoli , Marco Antonio Villa,
Ricardo Noblat , Merval Pereira, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes,
Eliane Catanhede, além dos que agora se somam a eles, são fontes preciosas para
as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que
Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia
brasileira. Seus textos serão utilizados nas disciplinas de ontologia
jornalística não apenas com o exemplos concretos da falência ética do
jornalismo tal qual entendíamos até aqui, mas também como sintoma dos novos
desafios para uma profissão cada vez mais dominada por uma economia da
moralidade que confere legitimidade a práticas corporativas inquisitoriais
vendidas como de interesse público.
O
chamado “mensalão” tem recebido a projeção de uma bomba de Hiroshima não porque
os barões da mídia e os seus gatekeepers estejam ultrajados em sua
sensibilidade humana. Bobagem! Tamanha diligência não se viu em relação à série
de assaltos à nação empreendidos no governo do presidente sociólogo! A verdade
é que o “mensalão” surge como a oportunidade histórica para que se faça o que a
oposição – que nas palavras de um dos colunistas da Veja “se recusa a fazer o
seu papel” – não conseguiu até aqui: destruir a biografia do presidente
metalúrgico, inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e reconduzir o
projeto da elite ‘sudestina’ ao Palácio do Planalto.
Minha
esperança ingênua e utópica é que o Partido dos Trabalhadores aprenda a
lição e leve adiante as propostas de refundação do país abandonadas com o
acordo tácito para uma trégua da mídia. Não haverá trégua, ainda que a nova
ministra da Cultura se sinta tentada a corroborar com o lobby da Folha de S.
Paulo pela lei dos direitos autorais, ou que o governo Dilma continue
derramando milhões de reais nos cofres das organizações Globo e Abril via
publicidade oficial. Não é o PT, o Congresso Nacional ou o governo federal que
estão nas mãos da mídia.
Somos
todos reféns da meia dúzia de jornais que definem o que é notícia, as práticas
de corrupção que merecem ser condenadas, e, incrivelmente, quais e como devem
ser julgadas pela mais alta corte de Justiça do país. Na última sessão do
julgamento da ação penal 470, por exemplo, um furioso ministro-relator exigia a
distribuição antecipada do voto do ministro-revisor para agilizar o trabalho da
imprensa (!). O STF se transformou na nova arena midiática onde o enredo
jornalístico do espetáculo da punição exemplar vai sendo sancionado.
Depois
de cinco anos morando fora do país, estou menos convencido por que diabos tenho
um diploma de jornalismo em minhas mãos. Por outro lado, estou mais
convencido de que estou melhor informado sobre o Brasil assistindo à imprensa
internacional. Foi pelas agências de notícias internacionais que informei
aos meus amigos no Brasil de que a política externa do ex-presidente
metalúrgico se transformou em tema padrão na cobertura jornalística por aqui.
Informei-lhes que o protagonismo político do Brasil na mediação de um acordo
nuclear entre Irã e Turquia recebeu atenção muito mais generosa da mídia
estadunidense, ainda que boicotado na mídia nacional. Informei-lhes que
acompanhei daqui o presidente analfabeto receber o título de doutor honoris
causa em instituições européias, e avisei-lhes que por causa da política
soberana do governo do presidente metalúrgico, ser brasileiro no exterior
passou a ter uma outra conotação. O Brasil finalmente recebeu um status de
respeitabilidade e o presidente nordestino projetou para o mundo nossa
estratégia de uma America Latina soberana.
Meus
amigos no Brasil são privados do direito à informação e continuarão a ser
porque nem o governo federal nem o Congresso Nacional estão dispostos a pagar o
preço por uma “reforma” em área tão estratégica e tão fundamental para o
exercício da cidadania. Com 70% de aprovação popular, e com os movimentos
sociais nas ruas, Lula da Silva não teve coragem de enfrentar o monstro e agora
paga caro por sua covardia.Terá a Dilma coragem com aprovação semelhante, ou
nossa meia dúzia de Murdochs seguirão intocáveis sob o manto da liberdade de
e(i)mprensa?
Jaime Amparo Alves é jornalista, doutor em
Antropologia Social, Universidade do Texas em Austin –amparoalves@gmail.com