segunda-feira, 29 de julho de 2013

O PAPA FRANCISCO


Vou confessar, quase que me converto à religião! Fiquei balançado. Minhas convicções anteriores por pouco não ruíram.

Acompanhei, com certo interesse, a cobertura midiática à passagem do papa pelo país. Acredito que, inicialmente, pela sua origem sulamericana, afinal trata-se de um papa que veio “do fim do mundo” – palavras do próprio prelado, e este fim de mundo é a nossa região. “Desde o papa sírio Gregório III, no século VIII, Francisco, o pontífice moderno não europeu“. Depois, por suas atitudes que me pareceram naturais; sinceras e desprovidas de demagogia. Avalio sua performance por esses dias em que aqui esteve, como surpreendente e alvissareira. Estou acreditando, porém “com um olho na missa e outro no padre”, em uma mudança expressiva de atitudes da alta cúpula da igreja católica no sentido da redução da fome; da miséria, da desigualdade social, da concentração de renda, fatores esses que sempre foram e são efetivamente os mantenedores da “fé cristã” e da própria opulência da “igreja de Pedro”; na verdade, a igreja de um novocristão, imperador romano. Alguém já disse. “A escolha da pobreza. O santo de Assis...rebelou-se contra os pecados do Vaticano do século XIII,  [e] não foi por acaso que Bergoglio  [seu nome de batismo], escolheu ser Francisco".

Ver o Papa num carro comum, sem blindagem, de janela aberta, diferentemente dos que andaram em papamóvel blindado foi uma grata surpresa. “O papa...é contra o culto à celebridade...pediu a remoção de uma estátua...a representá-lo sorridente e dar a bênção...nos jardins da catedral metropolitana de Buenos Aires... removida imediatamente.”. “Bergoglio optou por uma linha popular do Ford Focus e tirou de circulação os doados automóveis Mercedes Benz e BMW... Se gostam de carro de luxo, pensem nas crianças que todos os dias morrem de fome”.

Além dessas posições que mais se aproximam da Teoria da Libertação, do que dos conservadores concílios, que levou muitos dos seguidores das ideias franciscanas brasileiros (padre Beto, frei Tito...) às masmorras e,  à excomungação da Igreja. O papa foi incisivo ao “incitar” [ah! Esta palavra foi muito usada pelos idos de 60 e 70] os jovens a se rebelar, a promover revolução – êta palavra que incomodava (só?!) os usurpadores do poder e servis, na época já referida. Com relação a estas suas palavras, gostaria de saber se Francisco assim pensaria e se teria  coragem de fazer a revelação em público em plena ditadura em que vivêramos.

(P.S.: os textos “aspeados” foram retirados da revista Carta Capital nº 758).  

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Estádio versus Arena


- Dois reais, o amendoim? Que absurdo!!!”.

- Amigo, este é amendoim de arena, não é de estádio, retruquei ao consumidor indignado com o preço do pacote de amendoim cobrado por um pobre menor vendedor que, contrariando “normas da FIFA”, se aventurava a vender sua mercadoria às cercanias da Arena Itaipava. Não sabendo ele - o consumidor. Ou sabia? - dos preços cobrados no interior da arena.

Alguém próximo a mim, após um dos jogos da Copa das Confederações, comentou com assombro:

- Não vi negros no estádio!

A propósito, Afonsinho, poucos sabem de quem se trata, ex-jogador dos idos 70, diferenciado; aliás, bem diferenciado, do estereótipo do jogador de futebol. Ele, naqueles anos difíceis, quando muitos se escondiam no silêncio, misto de jogador e acadêmico de medicina, já emitia suas opiniões, e foi o primeiro jogador, ao que me parece, na História do futebol brasileiro a obter passe-livre, numa conjuntura em que a relação empregador(clube) / empregado(jogador) era completamente desfavorável à última das partes, por causa do “passe-preso”. Bem, em recente crônica ele aconselha a Neguinho da Beija-Flor a alterar o refrão do seu samba que diz “Domingo eu vou ao Maracanã” para “Domingo eu não vou ao Maracanã“, em razão, acredito eu, da cor da sua pele/origem pobre - de Neguinho. “No cenário da elitização do futebol, penso em sugerir ao Neguinho da Beija-Flor que mude a letra do samba”, escreveu Afonsinho.

Voltando ao assombro do meu próximo, veja-se que, pelo linguajar e pelo próprio estranhamento, se trata de pessoa subdesenvolvida; pessoa do terceiro mundo; pessoa completamente alienígena com relação ao primeiro mundo e, ainda, com o “padrão Fifa”.

Pois bem, começo com este arrodeio para dizer que, por uma deferência toda especial de Rodrigo - uma das minhas três joias - compareci à Arena Itaipava  (Fonte Nova) para assistir aos três jogos da Copa das Confederações programados para ali. E, me senti como se fora um alienado completo, ao viver toda aquela atmosfera em que me vi envolvido, atropelado.

Ah! Bons tempos em que eu resolvia entrar por onde bem quisesse; a escolher uma dentre as dezenas de catracas que a “velha Fonte” nos oferecia e sentava onde bem entendesse; de trocar de lugar conforme as conveniências, tantas vezes quanto achasse necessário e muitas amizades e conhecimento entre pessoas foram feitas pelo convívio no estádio.

Naquele planeta, o planeta da Fifa, não! O lugar é previa e obrigatoriamente determinado e comportadamente devo manter-me por todo o tempo. De posse do ticket – ai que chique!- sou conduzido, como um bovino em direção ao curral, por vaqueiros, digo, voluntários, em geral, jovens, devidamente uniformizados, com megafones ou não e em estruturas montadas acima da superfície ou mesmo na própria superfície, para uma espécie de labirinto, sim, L..a..b..i..r..i..n..t..o! De onde num vai e vem incessante e praticamente, como se andando e chegando a lugar algum, para avançar pouquinho a cada volta – esforço que buliu com o meu labirinto - sem trocadilho, hein! - consigo eliminar a etapa labiríntica e, hã, pensa que cheguei? Ledo engano. Inicia-se nova fase com outros voluntários indicando os portões, são muitos os portões; os níveis, a arena tem três níveis de arquibancadas; os blocos, são inúmeros; as fileiras e – ufa! - finalmente posso encontrar o meu assento; este pessoal e intransferível.

Bem, o jogo em si não é tão diferente dos que se assistem dos estádios, mas não há mais lugar para apostadores, torcedores em grupos organizados, para os mais absurdos hábitos do tradicional frequentador de estádio de futebol. Não há mais lugar para pretos, para pobres, vendedores ambulantes, baiana de acarajé, do churrasquinho de gato, do isopor. Que saudade dos antigos bares, onde bebíamos e podíamos papar pratos populares, gostosamente elaborados.

Os estádios, com toda aquela áurea própria e espontaneamente feita pela gente do povo, gente que fez a extrema popularidade e o imenso poder deste esporte, estão sendo inexoravelmente substituídos.  

O futebol, que foi um esporte eminentemente da escol em seus primórdios. No padrão-Fifa, parece estar sendo submetido a um processo de retorno às origens, extinguindo os populares estádios, segregando os populares espectadores.

Nada restará de material (atenção para o real sentido do vocábulo) da Fonte Nova, do Mineirão, do Maracanã... a não ser o patrimônio imaterial tombado na lembrança das gerações que os conheceram e deles usufruiram.

Ainda bem que poderei contar por mais algum tempo com o meu Barradão.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O MENSALÃO DA GLOBO - continuação


O que é da grande mídia, quanto à descarada sonegação? O que diz o tão indignado A. Garcia, no “mau dia Brasil”? O que é do Ministério Público? O que é do Procurador Geral da República? O que é do STF? Do Ministro Joaquim, o todo poderoso caçador de mensaleiros?
Nada fazem, nada dizem. Parece-me que estou recebendo notícias de outro planeta, de outra galáxia. Nada aconteceu com a rede de TV mais poderosa do Brasil il il!
Segue o que escreve Rodrigo Viana, no “Escrivinhador”.

Sonegação milionária

A quem interessava sumir com processo da Globo? Por que Ministério Público não deu publicidade ao caso?

publicada terça-feira, 09/07/2013 às 22:53 e atualizada terça-feira, 09/07/2013 às 22:04


O silêncio dos (ex) jornalões diz tudo: o caso de sonegação da Globo tem um potencial muito mais explosivo do que as relações carnais entre o bicheiro Cachoeira e a redação da Veja. A Globo é acusada de sonegar 187 milhões de reais. Acusada por um auditor fiscal. Processo oficial na Receita Federal. A Globo recorreu e perdeu em instância administrativa. Com multa e juros, o valor a pagar passava dos 600 milhões de reais. Isso em 2006! Hoje, seria mais de um bilhão de reais! São vários mensalões…

O caso foi trazido à tona pelo blog O Cafezinho, de Miguel do Rosário. Na sequência, blogueiros saíram atrás de mais detalhes. O Tijolaço mostrou as relações entre o caso global e as acusações contra Ricardo Teixeira e a FIFA. Este Escrevinhador contou no domingo que o processo da Globo por sonegação havia simplesmente desaparecido. Muitos internautas reagiram com incredulidade: lá vêm s blogueiros com teoria conspiratória…

E não é que a conspiração era verdadeira? Na sequência, o Viomundo de Azenha trouxe a informação completa: uma funcionária da Receita foi processada e chegou a ser presa por retirar o processo de dentro do escritório da Receita Federal no Rio. A funcionária escapou da prisão graças a um Habeas Corpus no STF (cujo relator foi ele mesmo: Gilmar Mendes).

O círculo vai se fechando. Fica cada vez mais claro que o problema da Globo não é com o valor sonegado nem com a multa. Não. O problema é o conteúdo do processo. O incansável Amaury Ribeiro Jr revela que até doleiros utilizados por esquemas mafiosos no Rio estariam citados no processo.

Vinte anos atrás, durante o impeachment de Collor, a sequência de apuração foi outra: Pedro Collor falou à Veja, a Folha e o Estadão completaram a investigação, e o tiro de misericórdia veio com o motorista Eriberto, na Istoé. Veja, Istoé, Folha e Estadão permanecem em silêncio agora, no caso Globo. A investigação passa por outro caminho: “O Cafezinho”, “Tijolaço”, “VioMundo”, “ConversaAfiada”, Stanley Burburinho e tantos outros nomes…

Se o governo do PT tem medo de enfrentar a Globo, os blogueiros e ativistas sociais correm pra revirar as entranhas do monstro e expô-las em público. Restam várias perguntas. E a mais óbvia é a que qualquer detetive de filme B costuma fazer: a quem interessava o sumiço do processo da Globo? A funcionária que o surrupiou agiu sob encomenda. Quem pagou?

O processo, garante-me o “garganta profunda” que viu o papelório, é uma bomba atômica contra a Globo e seus donos. José Roberto Marinho não é o único citado. Os outros irmãos também estariam lá. A volumosa investigação apresentaria, com didatismo, o “modus operandi” das “Organizações” Globo.

Mesmo sem uma linha publicada nos jornais e revistas (que costumam impor sua pauta a país), oMinistério Público Federal sentiu-se pressionado e soltou uma nota sobre o caso. Nota estranha, que finge explicar tudo mas não explica o principal: por que o MPF fez toda a investigação sobre o sumiço do processo da Globo em “sigilo”? Ninguém está pedindo que o MPF quebre o sigilo fiscal da Globo, mas trata-se de uma institução que deve primar pela transparência, não pode agir no subterrâneo!

O MPF tinha obrigação de ter informado o país sobre o desaparecimento do processo (ocorrido há 6 anos). Não o fez. O MPF de Gurgel queria proteger a quem?

O MPF se diz “consternado” com o vazamento de informações. Não se mostra “consternado” com a sonegação de 600 milhões. Nem com o fato de a funcionária da Receita ter sido punida sozinha, sem que se aferisse quem encomendou o sumiço do papelório. A quem interessava sumir com processo que mostrava contas da Globo em paraíso fiscal?

Os blogs sujos declaram, “consternados”, que não possuem redações com editores e apuradores, nem verba para viagem, nem tampouco recursos para deixar repórteres semanas a fio debruçados sobre o caso. Mas possuem uma rede informal (e infernal, para desgosto dos poderosos do Jardim Botânico) de apuradores. As informações fluem pelas redes, há milhares de “repórteres” informais ajudando a apurar essa história. São brasileiros que já não suportam a arrogância da Globos e de seus jabores, kamels e mervais amestrados.

O povo gosta das novelas, reconhece a qualidade técnica da Globo, e sabe mesmo dar valor aos bons jornalistas que tentam cumprir seu papel na gigante da Comunicação brasileira. Mas o nosso povo está cansado de ser enganado e pautado pela Globo. Tudo isso sob o silêncio cúmplicede instituições como o MPF.

A história – completa – virá à tona. É questão de dias. O império midiático ficará nu.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O “MENSALÃO” DA REDE GLOBO

Eu sempre acreditei que a raiz dos nossos atávicos problemas está nos grandes conglomerados empresariais, no empresariado em geral”. Comecei com esta sentença a postagem anterior em que falo do grande “lance” feito pela Presidenta Dilma no presente jogo de xadrez da nossa política. Ela inteligentemente, ao propor um plebiscito, entregou de bandeja o problema aos congressistas, especialmente aqueles que se dizem oposicionistas e que não passam de entregadores da Pátria por um lado e, por outro, defensores perpétuos dos interesses (seus) da Casa Grande, da burra elite brasileira. Agora vejam o que se segue. O conglomerado “Globo” sonega imposto, cria empresa “laranja” em paraíso fiscal é autuada pela Receita Federal e o processo SIMPLESMENTE SOME. Vejam, pois, o que escreve o “Escrivinhador”, Rodrigo Viana:

publicada domingo, 07/07/2013 às 18:33 e atualizada domingo, 07/07/2013 às 18:58


Conversei com duas fontes importantes, que trouxeram esclarecimentos sobre o episódio da sonegação de impostos da Globo, denunciada pelo blog “O Cafezinho”, de Miguel do Rosário.

Uma das fontes é um ex-funcionário público (que conhece bem instituições como a Receita Federal e o Ministério Público no estado do Rio). Esse homem é o mesmo que Miguel do Rosário tem chamado de “garganta profunda”. Por isso, também o chamaremos assim nesse texto. A segunda fonte (será chamada aqui de “fonte 2″) é uma pessoa que esteve no governo federal (funcionário de carreira), nunca exerceu cargos eletivos, mas sabe muito sobre os bastidores do poder – e suas intercessões com o mundo das finanças e da mídia. Seguem abaixo as informações que recebi dos dois. O texto é longo, mas peço atenção porque trata de assunto gravíssimo.

1 - O blog “O Cafezinho” publicou apenas 12 páginas de uma imensa investigação contra a Globo. Onde está o processo original? Onde estão as centenas de páginas até agora não reveladas? Um mistério. O “garganta profunda” garante que funcionários da Receita Federal no Rio estariam “em pânico” (são palavras dele) porque o processo contra a Globo simplesmente sumiu! Sim. O processo não foi digitalizado, só existe em papel. O deputado Protógenes Queiroz (que pretende abrir uma CPI para investigar a Globo) também considera “estranho” que não haja “back-up” da investigação.

“Mas como um processo some desse jeito?” pergunto incrédulo. E o “garganta profunda” responde com um sorriso: “há advogados especializados nisso, e às vezes o sumiço físico de um processo é a única forma de evitar danos maiores quando se enfrenta uma investigação como essa contra a Globo”. Insisto: “mas quem teria pago pro processo desaparecer?”. E o “garganta profunda” responde com um sorriso apenas.

2 – Importante compreender que, na verdade, há uma investigação contra a Globo que se desdobra em dois processos. Tudo começa com o ”Processo Administrativo Fiscal” de número 18471.000858/2006-97 , conduzido pelo auditor fiscal Alberto Sodré Zile; era a investigação propriamente tributária, no decorrer da qual descobriu-se a (suposta) conta da Globo em paraíso fiscal e a sonegação milionária. Ao terminar a investigação, no segundo semestre de 2006, Zile constatou “Crime contra a Ordem Tributária” e por isso pediu a abertura de uma“Representação Fiscal para Fins Penais” (ou seja: investigação criminal contra os donos da Globo) que recebeu o número 18471.001126/2006-14.

3 - Um dos indícios de que há algo errado com os dois processos contra a Globo surge quando realizamos a consulta ao site ”COMPROT” (qualquer cidadão pode entrar no site“COMPROT” do Ministério da Fazenda e fazer a consulta – digitando os números que reproduzi no item acima). Ao fazê-lo, aparecem na tela as seguintes informações:

“MOVIMENTADO EM: 29/12/2006″

“SITUAÇÃO: EM TRÂNSITO”.

4 – Um processo (ou dois!!!) pode ficar ”em trânsito” durante seis anos e meio? Isso não existe. Onde foi parar o processo? Entrou em licença médica? Repousa em algum escaninho? Viajou para as Ilhas Virgens Britânicas? Ou desapareceu no buraco negro que parece unir o Jardim Botânico ao Planalto Central?

A “fonte 2″ esclarece que a investigação deveria ter seguido dois caminhos:

– a Globo poderia continuar discutindo o imposto devido nas instâncias administrativas da Receita (para isso, teria que pagar o valor original e discutir a multa);

– o Ministério Público Federal no Rio deveria ter iniciado uma investigação dos aspectos criminais (esse era o caminho depois da “Representação Fiscal para Fins Penais” apresentada pelo auditor Zile).

5 – Se a Globo tivesse feito recursos administrativos na Receita, isso deveria constar no site “COMPROT”. Mas a última movimentação é de 29/12/2006 – como qualquer cidadão pode confirmar realizando a consulta. O que se passou? Onde está o processo? O “garganta profunda” garante: “o processo teria sido sido retirado do escritório da Receita do Rio, desviado de forma subterrânea”. Essa informação, evidentemente, ainda precisa ser confirmada.

6 – Se o processo original sumiu, como se explica que Miguel do Rosário tenha obtido as 12 páginas já publicadas em “O Cafezinho”? Aí está outra parte do segredo e que vamos esclarecer agora: um homem – não identificado - teria conseguido preservar o processo original (e feito pelo menos mais uma cópia, na íntegra, para se proteger). As 12 páginas seriam, portanto, “só um aperitivo do que pode vir por aí”, garante o “garganta profunda”.

7 – O que mais há no processo? Detalhes sobre contas em paraísos fiscais, e os nomes dos donos da Globo associados a essas contas, além de muitos outros detalhes – diz o “garganta profunda”, único a manter contato permanente com o homem que hoje possuiria o processo na íntegra. Seriam provas avassaladoras, “com nome, endereço e tudo o mais”. Em suma: umabomba atômica contra a Globo.

8 – Abrimos aqui um parêntesis. A “fonte 2″ garante-me que em 2003 a família Marinho procurou o governo Lula para pedir ajuda. A Globo estava a ponto de quebrar (graças às barbeiragens com a GloboCabo, que contraiu dívidas em dólar e viu essa dívida se multiplicar por quatro depois da desvalorização do Real em 98/99, no governo FHC). Algumas pessoas no entorno de Lula chegaram a sugerir que o governo emitisse “debêntures” para salvar a Globo. Na prática, isso poderia dar ao governo o controle da Globo. “Seria uma forma suave de, na prática, estatizar a Globo”, garante-me a “fonte 2″.

Por que não foi feito? “Eram todos marinheiros de primeira viagem no governo, faltou confiança e convicção para adotar essa medida, que teria sido a mais adequada para o país“, diz a “fonte 2″ – que acompanhou toda a negociação de perto. Ele conta que a família Marinho ficou contrariada com essa idéia, que chegou a ser levada à mesa por integrantes do governo Lula, mas a Globo estava tão desesperada que cogitou até aceitar essa saída pra não quebrar. Lula, no entanto, optou pela saída convencional: a Globo conseguiu empréstimos (inclusive no BNDES), e alongou a dívida. A família Marinho manteve seu império intacto.

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9 – Ainda pressionada por essa dívida principal, a família Marinho recebeu notícia da investigação fiscal, promovida pelo auditor Zile. A Globo pediu socorro ao governo. Isso deve ter ocorrido entre 2003 e 2004, diz a “fonte 2″. A ordem de Lula teria sido: “não vamos intervir, os auditores têm autonomia funcional e devem fazer o trabalho deles”.

10 – A partir de então (e apesar da “ajuda” do governo para equacionar a dívida principal originada pelas barbeiragens na Globocabo), a família Marinho teria declarado guerra. Isso explicaria a cobertura global na CPI do Mensalão, sob a batuta de Ali Kamel, em 2005. Essa é a tese da “fonte 2″, embasada nesses fatos só agora revelados.

11 – O processo por sonegação (conduzido pelo auditor Alberto Sodré Zile) foi concluído às vésperas da eleição de 2006, quando a Globo de novo apontou as baterias contra Lula. Acompanhei tudo isso de perto, eu estava na Globo na época.

Claramente, a temperatura contra o governo subiu no último mês antes do primeiro turno (ocorrido em outubro de 2006). O auditor Zile concluiu a investigação em setembro de 2006. A família Marinho queria que a investigação sobre sonegação fosse interrompida de qualquer forma. Não tanto pelos valores, mas porque a revelação de contas em paraísos fiscais seria devastadora.

12 – Entre o primeiro e o segundo turnos da eleição de 2006, houve algum acordo entre a Globo e o governo Lula? A cobertura global da eleição mudou completamente no segundo turno, tornando-se mais “suave”. Em novembro de 2006, um colega que também era repórter da Globo e que mantinha bons contatos com Marcio Thomaz Bastos (então Ministro da Justiça de Lula) disse-me: “Rodrigo, agora eles sentaram pra conversar, o governo e os Marinho“. Não se sabe ao certo o que foi colocado na mesa para a tal conversa. O que se sabe é que, coincidentemente, desde dezembro de 2006 a investigação por sonegação segue “em trânsito.”

13 – A divulgação das doze páginas pelo “O Cafezinho” pegou a Globo de surpresa. Reparem como a nota oficial da emissora é confusa e contraditória. A Globo fala que não há imposto a pagar, mas reconhece que discute algumas cobranças, sim. E não faz qualquer menção à conta nas Ilhas Virgens. É um ziguezague. Procedimento típico de quem não sabe o que o “outro lado” possui de munição. A Globo torce para que o resto do processo não apareça. Sobram várias perguntas…

14 – O homem que está com o processo na mão estaria disposto a revelar todo o conteúdo? Por que não o fez até agora?

15 – O MPF (Ministério Público Federal) vai esclarecer por que não seguiu a investigar a Globo, conforme sugeriu o auditor Alberto Sodré Zile em sua “Representação Fiscal para Fins Penais”? Cabe aos blogueiros e ao Centro Barão de Itararé fazer essa pergunta diretamente ao MPF. Aliás, nessa quarta-feira, dia 10, às 11h, o Barão e outras entidades irão para a porta do MPF no Rio (rua Nilo Peçanha, 31 – centro), levando a singela pergunta: “MPF, por que você não investiga a fraude da Rede Globo?”. Gurgel pode dar a resposta…

16 – A Receita Federal alega que não pode dar mais detalhes sobre a investigação, já que esta estaria protegida por sigilo fiscal. Ok. Mas a Receita pode – e deve – esclarecer o que foi feito dos processos. E por que eles constam como “em trânsito” na página “COMPROT” do Ministério da Fazenda.

17 – Por último, seria bom esclarecer se houve, de fato, algum acordo entre Lula e Globo em 2006. E por que ele teria sido rompido depois – com a evidente tomada de posição da emissora carioca em favor de Serra na eleição de 2010?