segunda-feira, 5 de setembro de 2011

PRIMEIRO DOMINGO DE SETEMBRO/2011

Primeiro domingo de setembro/2011

DEU NO JORNAL
I. Cordel do BIG BROTHER
Da edição de A TARDE, retiro o cordel a seguir:
Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria
.
(E este cordel vem bem a propósito. Já ouvi inserções publicitárias (Pedro Bial) sobre o próximo BBB). E diz bem sobre o que penso deste intragável programa televisivo.

II. Auto Tune, pitch, etc.
Certa vez, ouvindo uma “banda”, num bar, imaginei, de pronto, que se tratava do BATIFUN, por causa do repertório, animação e tal; mesmo assim, fique com dúvidas, até que ouvi deles próprios sua identificação, quando saudando Aracaju (era uma gravação ao vivo).
Começo com este preâmbulo, para dizer que a gravação em causa era ruim demais, qualidade bem diferente da que costumo ouvir de outro CD deles. Lendo a coluna de Caetano Veloso, na edição de A TARDE já referida, encontrei a explicação para a diferenciação e, também, para muitas outras indagações que vinha fazendo com relação à afinação “de uma voz ou de um instrumento numa gravação”, pois já havia percebido a diferença que existe entre a qualidade de um(a) cantor(a) apresentando-se ao vivo, sem parafernália acústica, e daquele(a) cantor(a) quando em CD ou em ambiente de gigantescas instalações e equipamentos.
Em certo trecho diz Caetano: “...estava tentando explicar o mal-estar que tendemos a sentir quando percebemos que uma voz afinadíssima num CD foi tratado com essa ferramenta (Auto-Tune) e, além de notar falsidade na lisura da nota e mudança no timbre da voz...”, oportunidade em que compara o referido “processador” ao Photoshop.  

III. “As vozes das Comunidades-terreiro...”
Os escravos foram calados
                                                                                                               na história do País”

O linguajar incompreensível de Procópio do Ogunjá tinha um poder...sobre a “branquelinha”. No caminho da escola, a quitanda do pai-de-santo, na Rua do Gravatá...Melhor que ver a mistureba exótica de frutas e búzios era ouvi-lo “falar daquele jeito diferente...”. Isto é parte da introdução à entrevista feita pela repórter  Cassia Candra, da revista Muito, deste domingo à etnolinguista Yeda Pessoa de Castro, 74 anos, Doutora em Línguas Africanas, membro da Academia de Letras da Bahia, que já dirigiu o Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBa, e fala sobre seu projeto de “ouvir as vozes do terreiro”.
Quando eu residia no Tororó (idos de ’80), trabalhando nos Correios, no Comércio, fazia diariamente o trajeto que liga aquele bairro à Cidade Baixa, (com a utilização do Elevador Lacerda), dava para perceber ainda vestígios do que fora aquela rua (do Gravatá) durante o século XIX e XX. Respirava ali a atmosfera dezenovecentista; percebia ainda fragmentos do comportamento social daquela época. Somado a isso tudo, a citação do termo quitanda fez-me voltar aos anos da minha infância no Engenho Velho de Brotas, quando ainda pude ouvir sons diferentes, o “falar daquele jeito diferentedos negros habitantes do bairro e, especialmente, dos “Nagôs”, nos velhos carnavais; assim como aquelas coisas expostas à venda nas quitandas, com seu cheiro bem característico. Bem, deixemos as recordações e vamos ao que diz a Dra. Yeda.
... a idéia que fica nos livros é a de que os africanos para cá trazidos em escravidão, por mais de três séculos consecutivos, eram mudos.”;
Diz, com relação aos destinos dos escravos chegados: “...do Benin...jejês foram levados para ... Cachoeira e São Félix... os iorubás...conhecidos por nagôs...para Salvador e Recôncavo...Ainda na primeira fase do século 19, houve uma concentração de hauças povos islamizados...da Nigéria.”. Estes últimos, promoveram uma série de revoltas aqui em Salvador, sendo uma delas a famosa Revolta dos Malês.
A idéia do projeto da Dra. Yeda é “mostrar esse tesouro que nós temos de lutar para preservar... como sentencia um provérbio kimbundo (uma das tantas línguas africanas) kifua o dimi, mwyenu u fuá we” – se morre a língua, a alma morre também
Finalizo esta síntese da entrevista da Dra. Yeda com a interessante revelação: o termo “caçula” é de origem africana, de Angola.