quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A DOENÇA DE LULA E AS AVES DE RAPINA

Passava por uma rua da Pituba e ouvi um transeunte (vá prá lá, com seus termos!) num irado desabafo, por causa da doença de Lula, vociferar: “ele que vá se tratar pelo SUS...ele agora vai pagar tin-tim por tin-tim tudo que fez...”, O cidadão (êpa!) destilava toda sua ira baseada principalmente no grande mote que a grande imprensa vem reverberando e que teve origem numa postagem, numa dessas redes sociais, de um “representante da juventude do PSDB” onde determina que o ex-presidente deve cuidar  do câncer de que é acometido pelos serviços do SUS, como se fosse Lula o responsável pelo estado causado por desmandos que datam de remotas eras. Já senti vontade de me pronunciar sobre esta questão, principalmente porque tenho ouvido esta mesma cantilena de “formadores de opinião” da grande imprensa; essa imprensa que só conhece liberdade se for para dizer irresponsavelmente, até, o que quer sem os cuidados naturais com a ética e a verdade dos fatos; que não produzem notícias, mas, sim, peças acusatórias desprovidas de elementos que sustentem verdades; um sem fim de destruição de honra alheia. Agora, mesmo, tenho anotado comentários de “jornalistas”, nos quais constam: agora, ele vai poder parar de tomar seus goles”; por que ele não se trata pelo SUS?...
E veio a calhar o comentário de Fátima Oliveira, médica, no Jornal O TEMPO, publicado no Blog de Luis Nassif, cujos termos eu transcrevo parcialmente:

“...Pelo exposto, conclui-se que a autonomia, no Brasil, alicerça dois direitos constitucionais: a dignidade da pessoa e a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem, mesmo quando titulares de tais direitos são figuras públicas. Como pode uma “pessoa pública” – a exemplo de parlamentares e governantes – ter direito a tais inviolabilidades?
Ora, ser uma “pessoa pública” não é condição para perder direitos, embora incorpore mais deveres. Uma pessoa pública em exercício de mandato eletivo deve explicações dos seus atos ao povo. Elementar: foi eleita para representar o povo ou governá-lo. E como tal está obrigada a prestar contas do que diz respeito à sua vida pública, ainda que seja na esfera privada, se repercutir na esfera pública.
As reflexões expostas tiveram como ponto de partida a recente polêmica (terá sido uma polêmica?) sobre a autonomia de que o ex-presidente Lula é titular, como qualquer cidadão do nosso país, de livremente escolher se quer tratar a sua doença, como e onde, segundo as suas posses.
As tentativas de linchamento moral e político, o desrespeito à vulnerabilidade de uma pessoa doente diante da medicina e da ciência não são apenas cruéis, são criminosos e podem aportar repercussões desfavoráveis na resposta ao tratamento. A má-fé, com o intuito de desmoralizar e vulnerabilizar, não pode ser aceita como algo normal numa democracia.
Só o preconceito de classe, uma das expressões da luta de classes, contra um sertanejo nordestino originariamente pobre e retirante que, pelo voto popular, presidiu o Brasil por duas vezes e ainda elegeu sua sucessora, explica que gente que se diz “bem-nascida” e que, mesmo quando come sardinha, diz que arrota caviar exija que Lula vá se tratar no SUS quando essa não foi a escolha que ele fez! Acessar o SUS é um direito, e não uma obrigação! Pero, a origem de classe é eterna…
Quem diz que a opressão de classe não existe e que a luta de classes acabou, a expressão “Lula, faça o tratamento pelo SUS!” desmente, além do que é reveladora de uma ignorância monumental sobre o SUS que, apesar das dificuldades e até sabotagens de classe, o hoje é melhor do que qualquer dia da era pré-SUS, por paradoxal que possa parecer!
Ao acabar com a figura do indigente na saúde, o SUS é a política pública que mais conferiu cidadania ao conjunto do povo brasileiro. Talvez resida aí o motivo pelo qual o SUS tem tantos inimigos. De classe! (O blogueiro é quem dá o destaque em negrito).