sexta-feira, 15 de abril de 2011

O CAOS AÉREO DA TV GLOBO

Dias atrás, fiquei, de certa forma, aterrorizado com o que a TV GLOBO noticiara e comentara. Aproveitando um relatório do IPEA, fixa a idéia de que não teremos (nós como país) competência para dar as condições necessárias para a realização da Copa do Mundo,em 2014. Uma reportagem,  seguida de comentários apocalípticos, para o nosso futebol e para a competência brasileira. Para que entendamos que problemas há, não tem dúvida alguma, mas que podem muito bem ser solucionados em tempo hábil, (Vejam o caso da determinação de sete anos como prazo para execução de tudo que deve ser feito com relação a aeroportos. Prazo estabelecido em função de prazos obtidos em obras anteriores; isto é, histórico pregresso indica que obras levam 7 anos. E, importante, sem que a INFRAERO fosse ouvida), o que segue, obtido no blog dos amigos do Presidente Lula.     
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Ontem de manhã, o IPEA divulgou o estudo "Aeroportos no Brasil: investimentos recentes, perspectivas e preocupações".

No mesmo dia, a propaganda eleitoral do PSDB na TV mostrou um daqueles atores figurantes do movimento CANSEI, dizendo que o Brasil vai "passar vergonha" lá em 2014, "por causa dos aeroportos".

O Jornal Nacional da TV Globo foi na mesma linha demo-tucana, dando destaque ao relatório do IPEA, muito acima da importância que ele tem, e ignorando boa parte do que diz o próprio relatório favorável ao governo.

Vamos analisar por partes.

Relatório do IPEA precisa ser lido com reservas: contém erros e foi ignorado pela imprensa nos pontos favoráveis ao governo

O IPEA é órgão técnico e seus estudos devem ser técnicos para orientar políticas públicas, não é para bajular governos, por isso é natural que tenham críticas no sentido construtivo, que oriente e desperte o debate dentro do próprio governo.

Mas a questão deste relatório é que não é bom, nem do ponto de vista acadêmico, e precisa ser lido com ressalvas, enxergando ser apenas um estudo que acerta em alguns aspectos econômicos e de demanda, mas erra ao especular quanto a cronogramas de engenharia, assunto que, ou deveria ter tratado com profundidade ou deveria ter deixado de fora do estudo.

Não tem sentido falar que o histórico pregresso indica que obras levam 7 anos, em "média".

Média do passado não serve de referência para o quadro atual.

Para começar, é absurdo falar em média, comparando um período fora-do-normal em que existe uma força-tarefa preparatória para a Copa do Mundo e Olimpíadas, que não existia nos períodos em que a tal média foi apurada. A última Copa do Mundo no Brasil foi em 1950, não dá para comparar períodos tão distintos.

Não dá para comparar períodos em que o Brasil estava quebrado, sem condições de investir, com o período atual, em que as obras dos aeroportos tem verbas garantidas no PAC-2.

Não dá para comparar o período em que a capacidade da Infraero de investir era muito menor, com a situação atual, quando o movimento de passageiros cresceu de 71 milhões de passageiros em 2003 para 154 milhões em 2010, e receitas da Infraero também aumentaram com isso.

O relatório também recorre à média para dizer que licenças ambientais demoram 38 meses (mais de 3 anos) em setor de transporte (misturando na média, rodovias na Selva Amazônica com ampliação de Aeroportos urbanos).

Piora, ao ignorar que muitas obras em aeroportos apenas estão executando projetos que já existiam, e já estavam licenciados, como construção de nova pista já prevista. Portanto tem pouco valor prático este estudo, feito nestas bases.

O estudo também erra ao estimar, com base em projeções, a saturação do Aeroporto de Guarulhos e uma capacidade ociosa do Aeroporto de Viracopos em Campinas, quando ambos atendem a região metropolitana de São Paulo, e são infra-estruturas complementares, que permite remanejar vôos de um para o outro. Principalmente considerando que Viracopos terá uma estação do trem de alta velocidade ligando-o à capital.

O mesmo erro é cometido no Rio de Janeiro, ao apontar saturação do pequeno Aeroporto de Santos Dumont, e capacidade ociosa do Aeroporto Tom Jobim (Galeão). Além disso, o Santos Dumont, cuja maior demanda atual é vôos Rio-São Paulo, perderá passageiros para o trem-bala.

Mesmo com estas deficiências no estudo, o Jornal Nacional, a oposição e o resto da imprensa, deturparam seu real conteúdo.

Ignoraram estes trechos fundamentais:
"Deve-se ressaltar que este estudo considera que as obras em pistas, pátios e módulos provisórios nos aeroportos têm, ainda, tempo hábil para serem concluídas até o evento de 2014.

... a Infraero possui um plano de investimentos de R$ 1,4 bilhão ao ano (entre 2011 e 2014) para 13 aeroportos brasileiros, visando a Copa de 2014. Isso representa mais do triplo da média anual investida entre 2003 e 2010 pela empresa, que foi de R$ 430 milhões".

Técnico do IPEA refutou lobby pela privatização

Na entrevista concedida, Carlos Alvares da Silva Campos Neto, um dos autores do trabalho, refutou a idéia de que a privatização seria solução, em pergunta de jornalistas :

"Isso não é uma ação trivial. A participação da iniciativa privada (no setor aeroportuário) é uma alternativa viável, mas não terá resultados imediatos. Isso não deve ser computado como uma alternativa para 2014... O novo presidente da Infraero (Antonio Gustavo Matos do Vale) já disse que o processo de abertura de capital levaria em torno de três anos", afirmou.

A propaganda do PSDB em dobradinha com o Jornal Nacional

A coincidência da propaganda do PSDB, incita a imaginação sobre tucanos infiltrados no IPEA, mas se fosse assim, não haveria assuntos de maior apelo popular para o IPEA fazer um relatório?

No campo eleitoral, o horizonte recomendaria lidar com assuntos que alavanquem conquistas nas eleições municipais, no ano que vem. Assuntos como saúde, educação, transporte urbano, trânsito, moradia decente e segura, meio-ambiente, segurança pública e prevenção de drogas, tem mais apelo popular em uma campanha municipal do que transporte aéreo.

É difícil imaginar algum candidato a prefeito da oposição, mesmo de cidades sede da Copa, centrar sua campanha em cima de obras de Aeroportos que estarão em curso, gerando empregos, e serão perfeitamente viáveis para conclusão em 2014. Só conseguirá votos entre os assinantes da revista Veja, que já votam na oposição desde criancinha.

A oposição, se agarra no que tem para criticar, e testa o "caosaéreo" de novo. Talvez, como boa ave de rapina que é, jogue na loteria do mau-agouro, apostando em algum acidente aéreo que, estatisticamente, acontece de tempos em tempos em qualquer lugar do mundo, para procurar culpar o governo federal, como tivesse alguma relação.

O Jornal Nacional (JN), mostrou que a TV Globo, após uma relativa trégua depois da posse, volta ao ativismo oposicionista explícito, ao dar destaque ao relatório de um órgão que, normalmente, não merece destaque no telejornalismo da emissora. Quantos relatórios do IPEA foram noticiados no JN?

No dia anterior, o mesmo IPEA publicou um estudo sobre "Relações comerciais e de investimentos do Brasil com os demais países do BRICS", no semana em que a presidenta Dilma reuniu-se com os demais líderes destes países. Foi uma das principais notícias da semana. O JN da Globo não se interessou por esse relatório do IPEA, que não casava com os interesses da oposição.

terça-feira, 5 de abril de 2011

O DIA QUE DUROU 21 ANOS

Pelo transcurso do aniversário do golpe militar perpetrado contra o governo de João Goulart, constitucionalmente eleito, vai ao ar a série, em três capítulos, “O Dia que durou 21anos”, pela TV Brasil (tvbrasil.org.br). O primeiro episódio foi ao ar ontem (dia 4) e uma sinopse é apresentada a seguir. Baseado, principalmente, em documentos, antes confidenciais, dos ex-presidentes John Kennedy e do seu sucessor Lyndon B. Johnson, revelam, de forma escancarada, o que muitos já sabiam sobre a capital importância do apoio norte-americano ao referido golpe militar e a submissão de militares e parte da sociedade civil do nosso país, aqueles mesmos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio. Vejamos, a síntese a seguir.
Os que viveram a ditadura militar brasileira, os que passaram por ela em brancas nuvens e os que nasceram depois que ela acabou. Todos podem conhecer melhor e refletir sobre esse período, a partir da nova série “O Dia que durou 21 anos”, que a TV Brasil exibe nos dias 4, 5 e 6 de abril, às 22 h.
Em clima de suspense e ação, o documentário apresenta, em três episódios de 26 minutos cada, os bastidores da participação do governo dos Estados Unidos no golpe militar de 1964 que durou até 1985 e instaurou a ditadura no Brasil. Pela primeira vez na televisão, documentos do arquivo norte-americano, classificados durante 46 anos como Top Secret, serão expostos ao público. Textos de telegramas, áudio de conversas telefônicas, depoimentos contundentes e imagens inéditas fazem parte dessa série iconográfica, narrada pelo jornalista Flávio Tavares.
O mundo vivia a Guerra Fria quando os Estados Unidos começaram a arquitetar o golpe  para derrubar o governo de João Goulart. As primeiras ações surgem em 1962, pelo então presidente John Kennedy. Os fatos vão se descortinando, através de relatos de políticos, militares, historiadores, diplomatas e estudiosos dos dois países. Depois do assassinato de Kennedy, em novembro de 1963, o texano Lyndon Johnson assume o governo e mantém a estratégia de remover Jango, apelido de Goulart. O temor de que o país se alinharia ao comunismo e influenciaria outros países da América Latina, contrariando assim os interesses dos Estados Unidos, reforçaram os movimentos pró-golpe.
A série mostra como os Estados Unidos agiram para planejar e criar as condições para o golpe da madrugada de 31 de março. E, depois, para sustentar e reconhecer o regime militar do governo do marechal Humberto Castelo Branco. Envergando uma roupa civil, ele assume o poder em 15 de abril. Castelo era chefe do Estado Maior do Exército de Jango.
O governo norte-americano estava preparado para intervir militarmente, mas não foi necessário, como ressaltam historiadores e militares. O general Ivan Cavalcanti Proença, oficial da guarda presidencial, resume: “Lamento que foi um golpe fácil demais. Ninguém assumiu o comando revolucionário”.
Do Brasil, duas autoridades americanas foram peças-chaves para bloquear as ações de Goulart e apoiar Castelo Branco: o embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon; e  o general Vernon Walters, adido militar e que já conhecia Castelo Branco. As cartas e o áudio dos diálogos de Gordon com o primeiro escalão do governo americano são expostas. Entre os interlocutores, o presidente Lyndon Johnson, Dean Rusk (secretário de Estado), Robert McNamara (Defesa). Além de conversas telefônicas de Johnson com George Reedy Dean Rusk; Thomas Mann (Subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos) e George Bundy, assessor de segurança nacional da Casa Branca, entre outros.
Foi uma das mais longas ditaduras da América Latina. O general Newton Cruz, que foi chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI) e ex-comandante militar do Planalto, conclui: “A revolução era para arrumar a casa. Ninguém passa 20 anos para arrumar uma Casa”.
Em 1967, quem assume o Planalto é o general Costa e Silva, então ministro da Guerra de Castelo. Da linha dura, seu governo consolida a repressão. As conseqüências deste período da ditadura, seus meandros políticos e ideológicos estarão na tela. Mortes, torturas, assassinatos,  violação de direitos democráticos e prisões arbitrárias fazem parte desse período dramático da história.
O jornalista Flávio Tavares, participou da luta armada, foi preso, torturado e exilado político. Através da série, dirigida por seu filho Camilo Tavares, ele explora suas vivências e lembranças. E mais: abre uma nova oportunidade de reflexão sobre o passado.
O Dia que durou 21 anos é uma coprodução da TV Brasil com a Pequi Filmes, com direção de Camilo Tavares. Roteiro e entrevistas de Flávio e Camilo.
Primeiro Episódio:
As ações do embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon, ainda no governo Kennedy, são expostas neste primeiro capítulo. O discurso do presidente João Goulart pregando reformas sociais torna-se uma ameaça e é interpretado pelos militares como uma provocação. Nos quartéis temia-se uma movimentação de esquerda e a adoção do comunismo, que poderia se espalhar por outros países latinos. Entrevistas e reportagens da CBS são reproduzidas, bem como diálogos entre Gordon e Kennedy.
O documentário expõe a efervescência da sociedade brasileira naquele período. Para evitar que Goulart chegasse forte às eleições de 1965, foi criado o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), que teria dado cobertura às ações dos Estudos Unidos para derrubar João Goulart.
Segundo Episódio:
Cenas da morte de John Kennedy e a posse de Lyndon Johnson abrem este capítulo, dando sequência à estratégia dos Estados Unidos de impedir ao que o ex-presidente americano chamou de “um outro regime comunista no hemisfério ocidental”. “Vamos ficar em cima de Goulart e nos expor se for preciso”, diria Jonhson.
Imagens focam no discurso de Jango na Central do Brasil, em 13 de março de 1964,  que foi considerado uma provocação pelos arquitetos do golpe. Os americanos já preparavam o esquema, enviando suas forças militares para o “controle das massas”, como se refere um dos entrevistados. Paralelamente, articulações para levar Castelo Branco ao poder estavam sendo engendradas.
As forças americanas não precisaram entrar em campo. João Goulart pegou o avião, foi para Brasília e depois para o sul do país. Por que Jango não reagiu”? É uma questão posta na tela. O general Cavalcanti, oficial da guarda presidencial, resume: “Lamento que foi um golpe fácil demais. Ninguém assumiu o comando revolucionário”.
Os Estados Unidos estavam mobilizados para, em caso de resistência, fazer a intervenção militar pela costa e assim ajudar os militares.  As correspondências de Lincoln Gordon com o primeiro escalão da Casa Branca são mostradas ao público, explorando as ações secretas junto às Forças Armadas, a reação da imprensa e dos grupos católicos no Brasil. Os Estados Unidos reconhecem o novo governo e imagens da vitória e manifestações de rua entram em cenas.
Terceiro Episódio:
O cargo de presidente é declarado vago pelo presidente do Senado, Auro Moura de Andrade. O presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, é empossado.
No dia 15 de abril, o chefe das Forças Armadas, marechal Castelo Branco, toma posse.
Castelo tinha relações amistosas com Vernon Walters, adido da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Depois de suas conversas com Castelo, ele se ocupava em enviar telegramas para os Estados Unidos, relatando o teor da conversa.  Os textos dos telegramas são revelados no episódio.
O governo Castelo Branco recrudesce e dá início aos atos institucionais. O de número 2 extingue os partidos políticos e torna as eleições indiretas. E mais: prorroga o seu mandato. Em 1967, ele é substituído pelo general Costa e Silva, da chamada linha dura do Exército. O AI 5 é decretado no ano seguinte, e o Brasil entra no caos, “O AI5 foi uma revolução dentro da revolução”, declara o general Newton Cruz.
A repressão e a tortura dominavam o país. Militares e estudiosos falam desse período. O brigadeiro Rui Moreira Lima, da Força Aérea Brasileira, declara: “Eu conheci um coronel, filho de um general, que veio de um curso de tortura no Panamá. Ele chegou e disse: agora estou tinindo na tortura, pega aí um cara pra eu torturar”.
Os Estados Unidos continuam em campo e Lincoln Gordon pede para o governo fortalecer ao máximo o regime militar brasileiro. O orçamento da embaixada cresce, como registra o historiador Carlos Fico, da UFRJ, um dos entrevistados de Flávio Tavares